A Carta de Willy Lynch
Slave Mentality/ William Linch
A origem dos conflitos étnico-raciais.
Já ouviu falar da síndrome de Willy Linch?
Consciente ou inconscientemente vivemos e convivemos com este mal
todos os dias, por isso vale a pena sabermos um pouco mais sobre a
origem do problema para que saibamos identificar quando estivermos
diante de mais uma vítima desta doença psicológica, ou melhor, quem sabe
se fazendo uma autoavaliação descobrimos que também somos um portador
da mesma.
Alemanha – Desde 1993, tem sido amplamente difundido entre os
“negros” residentes nos Estados Unidos da América e em alguns círculos
das comunidades “negras” na Grã-Bretanha, um documento, que já ficou
conhecido como “a carta de Willy Lynch”.
Apesar de historiadores e outros grandes estudiosos de renome
questionarem e até rejeitarem em muitos casos a autenticidade do
documento (alegadamente escrito no sec. XVIII e que reapareceu do “nada”
em 1993), figuras importantes das comunidades afro-americanas tem
insistido não só na autenticidade do documento como também na sua
divulgação, principalmente entre as comunidades “negras”.
Uma destas figuras importantes é Louis Farrakhan o líder do movimento
afro-americano “Black Muslims”. Em 1995 em Nova York, num famoso
discurso transmitido em directo por várias estações televisivas, Louis
Farrakhan se referiu pela primeira vez á carta de Willy Lynch
publicamente, classificando-a como um “documento terrível mas
verdadeiro, que constitui uma prova inequívoca e inegável das astúcias
iníquas do chamado ‘homem branco’ contra o chamado ‘homem negro’ ao
longo das últimas gerações”.
Visto que acredito serem poucos os angolanos que já tenham ouvido
falar ou lido sobre Willy Lynch, decidi tomar hoje a iniciativa e fazer
uma reflexão sobre o assunto.
Quem é afinal de contas, Willy Lynch? Qual o conteúdo e propósito da
sua carta? Porquê que Louis Farrakhan se refere á carta de Willy Lynch
como um “terrível documento”? E que importância tem para nós angolanos, e
acima de tudo africanos, o conhecimento do conteúdo da carta de Willy
Lynch?
Para encontrarmos as respostas a estas perguntas, precisamos fazer
uma viagem imaginária até ao sec. XVIII. Mais precisamente no ano de
1712.
Quem era Willy Lynch?
William Lynch (o nome William foi mais tarde abreviado para Willy)
foi um colonizador e proprietário de escravos de naturalidade britânica
no sec.XVIII, no Caribe (Caraíbas) conhecido por manter os seus escravos
disciplinados e submissos. Acredita-se que o termo “linchar” (to lynch,
lynching: em inglês), se deriva do nome dele. Enquanto a maioria dos
europeus na altura se confrontava com problemas como fugas, revoltas
(violentas) colectivas e individuais de escravos, Willy Lynch mantinha
aparentemente um controle e ordem absoluta sobre os seus serventes
“negros”. Segundo se diz, os escravos de Willy Lynch amavam mais ao
próprio “mestre” do que uns aos outros. Se algum dos seus escravos
tentasse fugir ou criar alguma revolta, logo era traído por outros
companheiros igualmente escravos e igualmente “negros”. Esse aparente
poder sobre os seus escravos despertou o interesse e a curiosidade de
muitos fazendeiros americanos e britânicos que haviam estabelecido
colónias no território da Virgínia, América do Norte. Agastados com as
constantes insurreições de escravos nas suas fazendas, os fazendeiros
americanos decidiram convocar Willy Lynch para Virgínia, a fim de
ajuda-los a manter o controlo sobre os seus escravos.
Em meados de 1712, Willy Lynch faz a longa viagem do Caribe para a
América do norte. Após a sua chegada em Virgínia, e após constatar em
loco alguns dos problemas que os seus “Colegas terroristas” enfrentavam
com os escravos raptados de África, Willy Lynch decide escrever uma
carta onde ele revelaria o seu segredo para manter os seus escravos na
“linha”; (algumas versões dizem que ao invés de uma carta, Willy Lynch
fez um discurso perante dezenas de proprietários de escravos, onde
revelou o seu “segredo”; este discurso foi mais tarde compilado em forma
de cartas, e distribuído a vários fazendeiros e colonos não só na
América, como também em África, ilhas Canárias, e Ásia). Com a carta,
Willy Lynch pretendia que seu método fosse divulgado e implementado por
todos os proprietários de escravos da colónia de Virgínia e não só.
Willy Lynch expõe o seu orgulho quando escreve na carta que o seu método
podia deixar os escravos sob o seu domínio “por centenas, talvez
milhares de anos”.
Qual era o segredo de Willy Lynch?
Prestemos todos agora muita atenção á carta de Willy Lynch. É
importante que cada um de nós como africanos, leiamos o que se segue, e
que cada um de nós se questione até que ponto o método de Willy Lynch
poderá ter influenciado naquilo que hoje se classifica como “mentalidade
de escravo”.
Após as saudações iniciais e manifestar o seu apreço pelo interesse
dos fazendeiros americanos em conhecer o seu método para manter os seus
escravos submissos, Willy Lynch passa então a revelar o seu “segredo”:
” Verifiquei que entre os escravos existem uma série de diferenças”
começa Willy Lynch. “Eu tiro partido destas diferenças, aumentando-as.
Eu uso o medo, a desconfiança e a inveja para mantê-los debaixo do meu
controle (…) Eu vos asseguro que a desconfiança é mais forte que a
confiança, e a inveja mais forte que a concórdia, respeito ou
admiração”.
A seguir, Willy Lynch passa explicar de que maneira faz uso das
aparentes diferenças existentes entre os escravos: “Deveis usar os
[escravos] mais velhos contra os [escravos] mais jovens e os [escravos]
mais jovens contra os [escravos] mais velhos. Deveis usar os escravos
mais escuros contra os escravos mais claros e os escravos mais claros
contra os escravos mais escuros. Deveis usar as fêmeas contra os machos e
os machos contra as fêmeas. Deveis usar os vossos capatazes para semear
a desunião entre os negros, mas é necessário que eles [os escravos]
confiem e dependam apenas de nós”. Mais adiante, no fim da carta, Willy
Lynch acrescenta em jeito de despedida: ” Meus senhores, estas
ferramentas são a vossa chave para o domínio, usem-nas. Nunca percam uma
oportunidade (…) se fizerdes intensamente uso delas por 1 ano o escravo
permanecerá completamente dominado”.
Como podemos interpretar o método de Willy Lynch? Numa só frase:
“dividir para dominar”. Willy Lynch usava as diferenças de idades e de
sexo para meter os escravos uns contra os outros. Usava também a cor da
pele (os mais escuros contra os mais claros e vice-versa), para semear a
divisão, a desconfiança e o medo entre os seus escravos. Nos Estados
Unidos da América, por exemplo, os escravos mais claros eram os mais
populares, o que atraía o ódio dos escravos mais escuros, provocando
divisão entre ambos os grupos. Willy Lynch criava entre os seus escravos
sentimentos de inferioridade em alguns por serem mais velhos ou mais
jovens, mais claros ou mais escuros; incutia na mente dos machos que as
fêmeas “negras” não tinham beleza nem valor, fazendo com que os seus
escravos sentissem mais admiração pela mulher branca; de igual modo,
incutia na mente das fêmeas “negras” que o homem “branco” era mais
atraente e mais inteligente que o homem “negro”; incutia a desconfiança
psicológica entre eles, de modos a que pudessem confiar inteiramente
apenas no seu patrão “branco”, como se de “deuses” se tratassem. Dividir
para dominar. Com esta fórmula bem estudada e implementada, Willy Lynch
chegou a gabar-se dizendo: “O escravo depois de doutrinado desta
maneira, permanecerá nesta mentalidade passando-a de geração em
geração”.
O método de Willy Lynch rapidamente se tornou popular. Em todos as
colónias, o método de conquista que passou a ser adoptado era o mesmo:
dividir para dominar. Os escravos doutrinados com as ferramentas
psicológicas de Willy Lynch passariam então a padecer de uma enfermidade
mental que hoje é classificada em alguns círculos como a ” síndrome de
Willy Lynch”, ou seja, a mentalidade de escravo. Mas até que ponto foi o
método de Willy Lynch eficaz? Tomemos como exemplo, Ruanda.
Anaíse Risagina é uma refugiada do Ruanda (tutsi), de 27 anos de
idade, actualmente residente no reino da Holanda. Visto que somos bons
amigos, recentemente andamos a conversar sobre os acontecimentos de
Ruanda em 1994. Pedi a Anaíse, que me relatasse de maneira resumida, as
causas que estiveram na origem daquele conflito genocídio. Através de um
e-mail, Anaíse me respondeu com as seguintes informações interessantes:
” Sempre houve alguma tensão entre a maioria hutus e a minoria tutsis
no Ruanda, mas antes do período colonial as divergências entre ambos os
grupos não era coisa muito séria. Os dois grupos étnicos não tem muitas
diferenças entre um e outro, fisicamente um Hutu pode ser confundido
com um tutsi. Mas, alguns tutsis são realmente mais claros, mais altos, e
alguns que habitam mais a norte têm uma aparência que se assemelha mais
aos somalis ou aos etíopes. Mas falamos a mesma língua, gostamos da
mesma comida, habitamos nas mesmas áreas e temos as mesmas tradições (…)
mas quando os colonialistas belgas chegaram em 1916 eles é que viram
diferenças entre os dois grupos étnicos. Para eles éramos entidades
distintas e até produziram diferentes cartões de identidades para cada
uma das etnias (…) classificavam as pessoas de acordo com a etnia (…)
mas antes deles chegarem nós não víamos estas diferenças que eles
viram”.
Segundo Anaíse, “os belgas consideraram os tutsis como superiores aos
hutus e os tutsis é claro que também ficaram a gostar (…) dizem que
mediam os narizes dos hutus e tutsis e eles diziam que os tutsis tem o
nariz mais fino (…) nos 20 anos seguintes os tutsis lhes davam melhores
empregos e até melhores oportunidades para estudar do que os seus
vizinhos hutus…”
Pelo relato de Anaíse, fica mais do que evidente o método de Willy
Lynch: dividir para dominar foi o método utilizado pelos belgas. Em
1962, quando os belgas concederam independência á Ruanda, os hutus
assumiram então o controle do poder. Logo os tutsis se tornaram os bodes
expiatórios para todas as desgraças. Ambos os grupos estavam assim
infectados pela “síndrome de Willy Lynch”, uma doença “terrível”, que
segundo Lynch, “séria passada de geração a geração”. A desconfiança
entre as duas etnias se agravou a ponto de explodir como vimos acontecer
em 1994.
Em Angola não foi diferente. Quando os terrorístas-colonialistas
portugueses ocuparam o nosso território, o método de Willy Lynch foi a
ferramenta usada para a conquista psicológica do nosso povo. Passaram a
dividir os angolanos entre os assimilados e os indígenas. Os
assimilados, ganhavam este “status” depois de mostrarem que dominavam
melhor a língua portuguesa, que estavam melhor integrados na cultura e
na sociedade portuguesa, e os que em certa medida tivessem tido maiores
oportunidades educacionais. Os indígenas, eram os analfabetos, os que
por livre vontade ou que por falta de oportunidade não tiveram acesso ao
estudo, ou á integração á cultura portuguesa; eram aqueles que usavam a
língua regional como meio de comunicação e a cultura africana como modo
de vida. Por darem mais vantagens aos assimilados, os
terroristas-colonialistas passavam uma mensagem clara aos desgraçados
indígenas: aquele grupo [os assimilados] era o predilecto. Era o grupo
“abençoado”, o grupo dos merecedores. Tinham acesso aos melhores
empregos, podiam trabalhar directamente até no gabinete com o “branco”.
Compreensivelmente, toda esta situação criou o ódio dos indígenas pelos
seus “irmãos assimilados”, pois estes [os indígenas] passaram a ver os
seus irmãos como um entrave a conquista da independência. Ambos os
grupos na verdade já estavam afectados pela “Síndrome de Willy Lynch”.
Mas os terrorístas-colonialistas portugueses não ficaram por aí. Eles
decidiram usar mesmo a fundo o método de Willy Lynch. Para criar ainda
mais divisão entre as diferentes raças de angolanos, os “Lynchistas”
incutiam na mentalidade dos mais claros o sentimento de “superioridade”
em relação aos mais escuros. Estes, apenas pela cor da pele, tinham
acesso mais fácil aos empregos e a escola em relação aos mais escuros.
Estava assim criado o cenário para que a “Síndrome de Willy Lynch” se
espalhasse entre o nosso povo (que doença maldita!) e a sua dose foi tão
forte que pelos vistos, tem sido passada de “geração em geração”. Prova
de que esta doença ainda prevalece entre nós angolanos, é o seguinte
comentário feito recentemente por alguém que assina como “Bantu
melhorado (mulato) ” no site club-k.net. Ele escreveu o seguinte:
” Os mulatos, também somos bantus…bantus superiores…porque melhoramos
a raça…estamos geneticamente melhorados…todo negro inteligente, deve
casar uma branca para melhorar a raça! (…) se os mulatos estivessem no
poder em Angola, como em Cabo-verde, este séria sem duvidas um pais
melhor”.
Considerar-se melhor apenas por ser “mulato” revela que a “Síndrome
de Willy Lynch” continua a causar mal á mente de muitas pessoas. É
exactamente esse o tipo de mentalidade que Willy Lynch quis introduzir
em todo homem “negro”. Fazer-lhe pensar que é superior por ser mais
claro em relação aos outros. Fazer-lhe sentir-se melhor, e mais capaz
apenas por ser mais claro. Tudo mentira. Tudo um método de conquista
psicológica, que infelizmente ainda causa divisão entre nós. Mas não é
só “a síndrome de Willy Lynch” que ainda prevalece. Ainda existem muitos
daqueles, de pele considerada “branca”, que tem a “mentalidade de Willy
Lynch”. Essa minha afirmação pode ser confirmada por um outro
comentário expresso no club-k.net, cujo conteúdo é conhecido pelos que
frequentam o referido site. Diz assim:
” Ser negro já é difícil, mas negro e burro é uma desgraça”.
Assim tem comentado alguém que diz ser “Branco da Capital”. Ao ler
este tipo de comentário, me apercebo que afinal, não existe mesmo raça
superior a outra. Todos cometem “gafes” absurdas. Mas há ainda outro
pormenor que este comentário me revela: nós os “pretos”, sei lá se por
causa da “Síndrome de Willy Lynch” ou não, encaramos o “branco” como
pessoas que estudaram mais, e que por natureza, são mais inteligentes e
civilizados. Os comentários do “Branco da Capital” confirmam que afinal
nós “os pretos” andamos a séculos enganados!
Mas há ainda outro factor a considerar: que efeito deve ter sobre nós, o conhecimento da carta de Willy Lynch?
A Carta de Willy Lynch e você
A primeira vez que li a carta de Willy Lynch, passei a perceber
melhor as causas de muitos problemas dos africanos. Comecei a perceber
melhor os efeitos que a escravidão e o colonialismo tiveram sobre o
nosso povo. Um dos piores efeitos, é que o colonialismo retirou o amor
aos africanos. Os africanos passaram a odiar-se por coisas aparentes mas
quase nunca por coisas reais. Decidi quebrar a corrente. Comecei a
perceber que afinal, não tenho nada que odiar alguém por ser mais claro
ou mais escuro do que eu. Não tenho nada que chamar alguém de Zazá ou
zaicó-langa langa, apenas por se expressar num português deficiente.
Descobri que é fútil julgar as pessoas pelas suas origens étnicas, cor
da pele, ou língua regional. Afinal somos todos africanos, somos todos
irmãos da mesma terra e do mesmo continente, mas de certa maneira,
“divididos” pela terrível doença que é a “Síndrome de Willy Lynch”.
Sempre que você julgar alguém por ser Bakongo…ou de outra etnia qualquer…lembre-se de Willy Lynch!
Sempre que você conceber ou apoiar ideias que instiguem ao racismo e
todo tipo de íamos entre os africanos…lembre-se de Willy Lynch!
Sempre que você sentir-se inferior apenas por ser do norte ou do sul…lembre-se de Willy Lynch!
Sempre que você julgar que por casar com uma branca estás avançando a raça…lembre-se de Willy Lynch!
E sempre que você sentir-se inferior quando estiver ao lado do “branco”, apenas por seres “negro”…lembre-se de Willy Lynch!
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